La exposición reúne un conjunto de obras
desarrolladas durante mi residencia artística en La Plata, Argentina. Las obras
proponen un intercambio: un poco de lo que la ciudad me ha dado, es devuelto a
ella.
Todo comienza siempre con un
recorrido.
Miré un saco de entulhos y me encantó
su nombre en español: bolsa de escombros. Intenté explicarme qué significaba
gambiarra (chapuza?) y encontré muchas palabras parecidas con distintos
significados.
Me pareció curioso que una ciudad
planeada tuviera veredas rotas al milímetro y me interesé por sus formas.
Recogiendo una serie de fragmentos tirados por ahí, descubrí que «baldosas» es
quizá el mejor nombre para los tesoros sobrantes que encuentro en la calle.
Con una mirada extranjera sobre la
ciudad, propongo pequeños desplazamientos - letras esparcidas por las calles,
objetos sin función, cartografía de baches y la invención de un nuevo paisaje.
Las obras buscan presentar a quienes viven en La Plata una visión diferente de
la ciudad.
En definitiva, yo también quería tener un perímetro, dentro de este cuadrado que es La Plata, para llamarlo mío y hacerlo mi lugar.A exposição reúne um conjunto de trabalhos desenvolvidos durante minha residência artística em La Plata, Argentina. As obras propõe uma troca: um pouco do que a cidade me deu, devolvido a ela
Tudo sempre começa com caminhadas.
Olhei para um saco de entulhos e me encantei por seu nome em
espanhol: bolsa de escombros. Tentei explicar o que significava gambiarra e
encontrei muitas palavras parecidas com significados distintos. Achei curioso
uma cidade planejada ter calçadas milimetricamente quebradas e interessei-me
por suas formas. Coletando uma série de pedaços de calçadas fragmentadas e
soltas ao léu, descobri que baldosas talvez seja o melhor nome para designar os
restos-tesouros que encontro na rua.
Com um olhar estrangeiro sobre a cidade, proponho pequenos
deslocamentos — letras espalhadas nas ruas, objetos sem função, mapeamento de
buracos e a invenção de uma nova paisagem. Os trabalhos procuram apresentar aos
que vivem em La Plata um olhar diferente sobre a cidade.
Enfim, também tive o desejo de ter um perímetro, dentro desse
quadrado que é La Plata, para chamar de meu e fazer dele meu lugar.
The exhibition brings together a group of works developed during my artistic residency in La Plata, Argentina. The works propose an exchange: a little of what the city has given me, is returned to it.
Everything always begins with a journey.
I looked at a bag of entulhos and I loved its name in Spanish: bolsa de escombros. I tried to explain to myself what gambiarra (shoddy?) meant and found many similar words with different meanings.
I found it curious that a planned city had sidewalks broken to the millimeter and I became interested in their shapes. Picking up a number of fragments lying around, I discovered that “baldosas” is perhaps the best name for the leftover treasures I find on the street.
With a foreign look on the city, I propose small displacements - letters scattered on the streets, objects without function, mapping of potholes and the invention of a new landscape. The works seek to present to those who live in La Plata a different vision of the city.
Ultimately, I also wanted to have a perimeter, within this square that is La Plata, to call it mine and make it my spot.
Cuántas veces
recorremos a pie las calles en automático, con la inercia de la rutina
acrecentada por la familiaridad de sus barrios. La Plata se despliega como un
trazado urbano preciso: patrones que se reiteran, formas que se replican, se
espejan, diagonales que la cruzan de punta a punta. En una caminata más atenta,
se empieza a percibir aquello que escapa a esa norma. Leticia deja caer la
mirada al suelo y sus paseos se tornan irregulares al tratar de esquivar esos
restos dispersos de la huella del tiempo. Cúmulos, retazos de aquello que
alguna vez fue pavimento, casa, o bien todos esos materiales que proyectan
armarla o repararla. Devenir asfalto, vereda. Construir el suelo que nos
sostiene.
Leticia Morgan trae
desde Sao Paulo su proyecto Pedestre
que documenta esas instancias que se alojan entre la edificación y el derrumbe,
residuos de lo que está por erigirse, cortes abruptos del tránsito, momentos
pausados ante la intermitencia de los tiempos de construcción. Ante sus ojos,
todo se presenta como una gran exhibición a cielo abierto, llena de objet trouvés e instalaciones callejeras
espontáneas que incomodan y bloquean el paso. Su proceso creativo hace un
recorrido al igual que su flâneur:
una caminata que se repite en la zona aledaña a la residencia, cantidad de
imágenes que saca con su celular, recolección de baldosas y fragmentos que
encuentra sin buscar. Unas bolsas de escombros que esconden caminos bifurcados
de un idioma similar.
Entre pinturas y
dibujos de tantos huecos en las veredas, de los llenos y los vacíos, se
delinean esas formas geométricas que entraman un mapa de lo roto. Rastros que
se hilan en un paisaje urbano del desorden. Susurros de múltiples lenguas que
habitan subterráneas van dejando pistas en rojo, zigzagueos del lenguaje. Letras
como indicios de que hay algo por descubrir si quebramos nuestra rutina.
Simbólicamente, la
ciudad de La Plata habita en una baldosa. Sostenerla entre las manos posibilita
escuchar su memoria y observarla con profunda extrañeza, como si nunca antes
hubiéramos visto un pedazo de piedra, de ciudad, nos permite conectar con otro
tiempo para poder mirar más allá de las formas.
Quantas vezes percorremos as ruas de forma automática, com a inércia aumentada pela familiaridade dos seus bairros. La Plata se revela com um traçado urbano preciso: padrões que são reiterados, formas que são replicadas e espelhadas, diagonais que a atravessam de ponta a ponta. Num passeio mais atento, começa-se a perceber o que foge a essa norma. Letícia deixa o olhar cair no chão e o seu caminhar torna-se irregular, tentando evitar os restos dispersos dos vestígios do tempo. Pedaços, restos do que um dia foi calçada, casa, ou todos os materiais que se projetam para montá-la ou repará-la. Tornar-se asfalto ou calçada para construir o chão que nos sustenta.
Letícia Morgan traz de São Paulo seu projeto Pedestre, que documenta os instantes que se alojam entre a construção e o desabamento, resíduos do que está prestes a ser erguido, cortes abruptos no trânsito, momentos pausados diante da intermitência dos tempos de construção. Perante os seus olhos, tudo se apresenta como uma grande exposição ao ar livre, repleta de objet trouvés e instalações de rua espontâneas que atrapalham e bloqueiam o caminho. O seu processo criativo segue o mesmo percurso do seu flâneur: um passeio que se repete nos arredores da residência, uma série de imagens que tira com o seu celular, recolhendo pedaços de calçada e fragmentos que encontra sem os procurar. Alguns sacos de entulho que escondem caminhos bifurcados de um idioma semelhante.
Entre pinturas e desenhos de buracos nos passeios, dos cheios e dos vazios, delineiam-se estas formas geométricas que tecem um mapa do quebrado. Rastros que são feitos em uma paisagem urbana desordenada. Sussurros de múltiplos idiomas que vivem no subsolo deixam pistas em vermelho e ziguezagues de linguagem. Letras como sinais de que há algo a descobrir se quebrarmos a nossa rotina.
Simbolicamente, a cidade de La Plata habita um ladrilho de calçada. Ao segurá-lo em nossas mãos, é possível ouvir sua memória e observá-lo com profunda estranheza, como se nunca tivéssemos visto um pedaço de pedra antes. Um pedaço de cidade nos permite conectar com outro tempo para poder olhar além das formas.